Nome: José Fernando Ribeiro da Mota (tio da aluna Carla Nunes da Mota, do 7º A).
Localidade: Novelas - Penafiel Data de Nascimento: 29 de Março de 1952
Local onde esteve na guerra: Moçambique desde 24 de Agosto de 1973 até 29 de Novembro de 1975.
O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?
Tenho muitas recordações dessa época, ou seja, como em tudo há boas recordações: a convivência, conhecer novas culturas totalmente diferentes da nossa, encontrar e depois conhecer novos povos, ter novos contactos. Contudo também há as más, as más recordações como as situações de guerra. Sofri um ataque a 28 de Fevereiro de 1974 pela manhã, ainda cedo. A alimentação era muito fraca e pouco variada (era sempre arroz e salsichas). As saídas para o mato, às quais chamávamos “operações”. Confesso que o meu pior dia foi quando fui mobilizado para o ultramar (chamado para a guerra, enquanto que o melhor dia foi o do embarque (regresso) à metrópole.
Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?
Logo pela manhã, depois de acordar, tratávamos da nossa higiene, íamos tomar banho ao rio Rovuma (entre Moçambique e Tanzânia), jogávamos cartas, escrevíamos aerogramas para comunicar com a família e os amigos, apanhávamos lenha para podermos cozinhar, íamos à caça, o pior era quando íamos almoçar, arroz e salsichas!
Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?
Na minha Companhia (conjunto de soldados) não ocorreram mortes nem feridos, contudo seis homens apanharam um trauma a 100%. Mas no meu Batalhão (conjunto de quatro Companhias) registaram-se mortes e pessoas que ficaram feridas, algumas gravemente.
Como se processava o relacionamento com os autóctones?
Dávamo-nos bastante mal e atacávamo-nos frequentemente. Confesso, sinceramente, que os indígenas eram da “pior raça” existente.
Concordava com este conflito? Justifique.
Quanto ao conflito não concordava porque Moçambique não era português, eram terras totalmente diferentes. Eles estavam a ser justos e nós injustos. Era uma terra que não nos pertencia.
Como eram as habitações?
Nós morávamos em barracas cobertas com chapas enquanto que os inimigos habitavam em barracas cobertas de capim (colmo).
Como era a caça?
A caça era rica em espécies e a carne era de boa qualidade.
Descreve-nos um combate?
No dia 22 de Fevereiro de 1974, às 4:55 da manhã até às 8:00 horas houve um bombardeamento da parte dos “turras” (índígenas). No ataque, ou seja, à frente estavam dezenas de negros, já drogados com “saruma”, contra os portugueses, a criar confusão e a intimidar, ou seja, para dar possibilidade dos “turras” se aproximarem de nós. Quando vimos os pretos já mortos, ficamos contentes pois aquilo dava-nos um certo gozo e depois fomos enterrá-los. Nesse dia, pelo bom desempenho, comemos pela primeira vez batatas. Houve a visita do general, pelo qual, alguns homens foram condecorados pelo seu bom desempenho. Além disso houve um movimento feminino que nos distribuíram gillettes e outros bens essenciais.
Teve conhecimento ou viu algo chocante?
Não, por acaso não. Contudo sabia que para Norte estavam alguns portugueses que cortavam a cabeça a pretos e espetavam-nas em estacas, pois os “turras” faziam o mesmo aos portugueses.
Outros registos que considere relevantes:
Ora bem, um que considero relevante era o facto de como convenciam e davam força para combater, dizendo ou “enchendo-hes a cabeça” com ideias tais como: «se morressem voltavam a nascer… ou se combatessem muito ganhavam prestígio».
José Fernando Ribeiro da Mota
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