domingo, 17 de agosto de 2008

Guernica em 3D


O quadro mais famoso de Pablo Picasso pode ser agora visitado online e em três
dimensões. Um trabalho notável da artista nova-iorquina, Lena Gieseke.


Toda a gente conhece a Guernica, um painel pintado a óleo com 782 x 351 cm, que
Pablo Picasso apresentou em 1937 na Exposição Internacional de Paris. A tela, a
preto e branco, representa o bombardeamento sofrido pela cidade espanhola de
Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães e actualmente está exposta
no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.O pintor, que morava em
Paris na altura, soube do massacre pelos jornais e pintou as pessoas, animais e
edifícios destruídos pela força aérea nazi tal como os viu na sua imaginação.

Agora uma artista nova-iorquina, Lena Gieseke, que domina as mais modernas
técnicas de infografia digital, decidiu propor uma versão 3D da célebre obra e
colocá-la na net soba forma de um vídeo (ver relacionados no final do texto). O
resultado é fascinante e permite-nos visualizar detalhes que de outro modo nos
passariam despercebidos. Esta técnica inovadora revela-se um instrumento
poderoso para compreender melhor a forma de trabalhar d o pintor e até o modo
como funcionava a sua imaginação.

Ver vídeo em:

http://www.lena-gieseke.com/guernica/movie.html

quarta-feira, 28 de maio de 2008

História


"Quando falamos de história, temos o costume de nos refugiar no passado. É nele que se pensa encontrar o seu começo e o seu fim. Na realidade, é o inverso: a história começa hoje e continua amanhã"

"Exaltação e Orgulho", de D.N. Marinotis

segunda-feira, 12 de maio de 2008

PRÉ-PHOTOSHOP EM 1945


Da autoria de Yevgueni Chaldej, esta é uma das fotografias de reportagem e fixação de momentos históricos que mais se celebrizaram e ainda hoje são o principal emblema da derrota do nazi-fascismo (mostrando o hastear da bandeira soviética por um soldado do Exército Vermelho, em 1945, sobre as ruínas do Reichstag em Berlim). Pela enorme força impressiva da imagem, esta foto de Yevgueni Chaldej (falecido em 1997) passou a constituir um pedaço da História, ilustrando o ponto alto da derrota do Reich hitleriano e a afirmação vitoriosa da máquina de guerra soviética que, sob comando supremo do Marechal Estaline, varreu um dos mais poderosos exércitos numa marcha de ferro e fogo desde Estalinegrado até ao coração de Berlim, enquanto os seus aliado (ingleses e norte-americanos) os vinham batendo desde Oeste e Sul. E, a partir da difusão massiva desta foto, magnífica de força, enquadramento e simbologia, não terá havido um único antifascista pelo mundo fora que não tenha encontrado alento de alívio e prazer ideológico vendo e revendo esta fixação para a posteridade da grande vitória (do Bem) e da grande derrota (do Mal).



Mas, como na história escrita, também a história pela imagem pode ser manipulada e manipulatória. Com o acrescento de eficácia de que se sobre um texto que nos é dado ler, algumas luzes de função crítica se acenderão, perante uma imagem, o normal é que a evidência do que entra olhos dentro nos encontre particularmente desarmados contra os truques, as manipulações, os enganos. E na habilidade para enganar, manipulando segundo objectivos políticos precisos, dificilmente se toma a palma à propaganda comunista, em que uma boa mentira é vista como um bom acto revolucionário e, assim, em vez da imoralidade do acto de mentir aos outros temos a absolvição automática pelos “ganhos da humanidade” obtidos pelo pragmatismo do efeito redentor da mentira. E tão entranhado está este utilitarismo na apresentação (ou supressão, ou alteração, ou parcialização) dos factos, políticos e históricos, que, sendo muitos os propagandistas comunistas (e, normalmente, são competentíssimos), raros são os historiadores comunistas que, sendo comunistas, sejam também historiadores com respeito pelo ofício.



De há muito que se sabe que esta foto de Yevgueni Chaldej foi conscientemente trabalhada e manipulada (o próprio autor confessou-o). Não só se apagou um dos dois relógios que o soldado soviético tinha no pulso (o que evidenciava o saque perpetrado pelos soldados do Exército Vermelho no seu caminho para Berlim) como a bandeira empunhada foi substituída por uma mais aberta e com as insígnias da foice e do martelo mais visíveis e marcantes no corpo da imagem. Admite-se até que a foto não fixou qualquer momento de realidade, tendo-se tratado apenas de uma mera encenação montada por encomenda propagandística. Agora, em Berlim, no museu Martin Gropius Baú, uma exposição com uma retrospectiva das fotos de Yevgueni Chaldej, mostra a sequência manipulatória até ao resultado difundido e que ficou mundialmente famoso e aceite como peça fotográfica histórica. Num trabalho manipulatório que, segundo um jornalista do “El País”, torna Yevgueni Chaldej “um percursor do programa informático de retoque fotográfico Photoshop”.



Apesar da evidência demonstrada da essência mentirosa da célebre foto, o mais provável é que ela continue a ser difundida e tomada como registo histórico de um acontecimento (que não ocorreu ou ocorreu diferentemente). O que nos remete mais uma vez para a questão do papel persistente que uma mentira bem pregada e bem difundida, ao apoderar-se de um cadeirão vitalício na assembleia da memória histórica, dificilmente se expulsa pela desonra da mentira. Muito depende da eficácia do estereótipo da mensagem ao saciar quem o procura beber. Também do talento dos mensageiros e se estes são profissionais da mentira.

Retirado de http://agualisa6.blogs.sapo.pt/

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Maio de 1968


Em Maio de 1968 uma greve geral aconteceu na França. Rapidamente ela adquiriu significado e proporções revolucionárias, mas em seguida foi desencorajada pelo Partido Comunista Francês, de orientação Estalinista, e finalmente foi suprimida pelo governo, que acusou os Comunistas de tramarem contra a República. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por que não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.

Começou como uma série de greves estudantis que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. À tentativa do governo de Gaulle de esmagar essas greves com mais acções policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Os protestos chegaram ao ponto de levar de Gaulle a criar um quartel general de operações militares para lidar com a insurreição, dissolver a Assembleia Nacional e marcar eleições parlamentares para 23 de Junho de 1968.

O governo estava próximo ao colapso naquele momento (de Gaulle chegou a se refugiar temporariamente numa base da força aérea na Alemanha), mas a situação revolucionária evaporou quase tão rapidamente quanto havia surgido. Os trabalhadores voltaram ao trabalho, seguindo a direcção da Confédération Générale du Travail, a federação sindical de esquerda, e do Partido Comunista Francês (PCF). Quando as eleições foram finalmente realizadas em Junho, o partido Gaullista emergiu ainda mais poderoso do que antes.

A maioria dos insurrectos eram adeptos de ideias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viram os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", dentre os quais as suas ideias sobre educação, sexualidade e prazer. Uma pequena minoria dos insurrectos, como o Occident (1964-1968 foi um movimento violento de ultra-direita da França, frequentemente descrito como fascista), professava ideias de direita.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

1.º de Maio - Dia do Trabalhador



Todos os anos, no dia 1 de Maio, comemora-se, em todo o mundo, o Dia do Trabalhador.


As origens do Dia do Trabalhador não são muito recentes. A história deste dia começa no séc. XIX.


Nessa época, abusava-se muito dos trabalhadores, porque chegavam a trabalhar entre 12 e 18 horas por dia, o que era muito cansativo e até prejudicial à saúde!


Já há algum tempo que os reformadores sociais (aqueles que propunham reformas, ou seja, mudanças na sociedade) defendiam que o ideal era dividir o dia em três períodos: 8 horas para trabalhar, 8 horas para dormir e 8 horas para o resto, o que incluía a diversão.


Foi com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diárias que, no dia 1 de Maio de 1886, milhares de trabalhadores de Chicago (EUA) se juntaram nas ruas para protestar contra as suas más condições de trabalho.


A manifestação devia ter sido pacífica, mas as forças policiais tentaram pará-la, o que resultou em feridos e mortos.


Este acontecimento ficou conhecido como "os Mártires de Chicago", por causa das pessoas que foram feridas e mortas só por estarem a lutar pelos seus direitos.


Quatro dias depois, houve uma nova manifestação pela redução do horário de trabalho e melhores condições.


Mais uma vez, a polícia virou-se contra os manifestantes e acabou por prender 8 pessoas, 5 das quais foram condenadas à forca!


Como o povo estava cada vez mais revoltado, estas condenações só serviram para "deitar mais achas na fogueira" e despertar a atenção de todo o mundo.


Em 1888, dois anos depois destes acontecimentos, os presos foram libertados por um júri que reconheceu que os trabalhadores estavam inocentes.


Em 1889, o Congresso Internacional em Paris decidiu que o dia 1 de Maio passaria a ser o Dia do Trabalhador, em homenagem aos "mártires de Chicago".


Só em 1890, os trabalhadores americanos conseguiram alcançar a sua meta das 8 horas de trabalho diárias!


Em Portugal, devido ao facto de ter havido uma ditadura durante muito tempo, só a partir de Maio de 1974 (o ano da revolução do 25 de Abril) é que se passou a comemorar publicamente o Primeiro de Maio.


Sabias que só a partir de Maio de 1996 é que os trabalhadores portugueses passaram a trabalhar 8 horas por dia?

Retirado do Site Junior

sábado, 26 de abril de 2008

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Manuel Joaquim Esteves

Nome: Manuel Joaquim Esteves (tio da aluna Joana Sousa, 10º J).

Localidade: Cristelos - Lousada Data de Nascimento: 20 de Dezembro de 1947

Local onde esteve na guerra: Angola de 12 de Outubro de 1968 a 12 de Outubro de 1970, na Força Aérea.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

O embarque, a ida…A amizade com os colegas devido à situação semelhante por que estávamos a passar.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

O dia-a-dia era passado de serviço de guarda à Unidade, o resto do tempo era passado nas camaratas e na sanzala, ver o negros e a “cidade”. O material bélico e transportes: utilizávamos as G3, bombas (lançadas pelos aviões), helicópteros, camiões, jipes “autocarros” (para levar os familiares dos sargentos e oficiais que tinham família a viver na cidade).

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Sim. Conheço vários aqui do Concelho, tanto feridos como mortos.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

Pessoalmente tinha um bom relacionamento com eles.

Concordava com este conflito? Justifique.

Não, não concordo, embora tenha ido quase como voluntário.




Manuel Joaquim Esteves

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - José Orlandino Gomes

Nome: José Orlandino Gomes Mendes (vizinho da aluna Cristiana Vieira, 10ºJ).

Localidade: São Migues - Lousada Data de Nascimento: 10 de Janeiro de 1949

Local onde esteve na guerra: Angola de 23 de Setembro de 1971 a 13 de Janeiro de 1974com a função de Auxiliar de Enfermeiro.

O que mais o marcou como agente dessa guerra?

O que mais me “tocou” foi não terem regressado, em Janeiro de 1974, os mesmos elementos que foram para Angola em Setembro de 1971!

Como era passado o dia-a-dia?

Como era auxiliar de enfermeiro ocupava os meus dias no ambiente de enfermaria a vacinar, tratar ferimentos graves, prestar assistência e socorrer em campo de batalha com uma mochila de 7 kg de material e por vezes íamos de helicóptero.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Sim. Vi colegas a morrer, uns por suicídio outros em combate e ainda em afogamentos.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

O relacionamento era, melhor, tinha de ser bom e com o maior respeito possível.

Concordava com este conflito? Justifique.

Não concordava. Contudo não o podíamos manifestar, guardava tudo para mim. Era obrigado a fazer o que me mandavam. Tinha que se matar para viver!

Outros registos que considere relevantes:

O convívio entre amigos lá e ainda agora nos convívios que marcamos. O ter conhecido um rapazinho de raça negra que me ajudava a perceber o que tinham e do que se queixavam os doentes da região (chamava-se Filipe).


José Orlandino Gomes Mendes

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Fernando Ferreira Miranda

Nome: Fernando Ferreira Miranda (tio da aluna Sara Valinhas, 9ºA).

Localidade: Soutelo - Lousada Data de Nascimento: 7 de Abril de 1950

Local onde esteve na guerra: Moçambique de 6 de Outubro de 1971 a 26 de Fevereiro de 1974.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

Durante todos esses meses que lá estive fui responsável pelos trabalhos de carpintaria e melhoramento do interior do quartel. Neste contexto, uma das minhas funções e que me marcou bastante, era o de também ser responsável por abrir e fechar as urnas onde metíamos os colegas mortos na guerra.
Outra coisa que me marcou era ver as crianças a aparecerem todos os dias no refeitório para levarem restos de comida.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Durante o dia fazia melhoramentos onde vivíamos e durante a noite fazíamos serviços de vigia, para nos protegermos do inimigo.



Fernando Ferreira Miranda

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Domingos Ferreira Lopes

Nome: Domingos Ferreira Lopes (avô da aluna Ânia Coelho, 7ºA).

Localidade: Freamunde Data de Nascimento: 3 de Agosto de 1938

Local onde esteve na guerra: Guiné-Bisau de 1961 até 1963.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

O que mais me marcou foi ver a vida dos indígenas/naturais da Guiné. Para além disso, factos marcantes foram os ataques de que fomos vítimas

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

De início, nas formaturas. Estávamos no quartel e íamos fazer a patrulha de reconhecimento, víamos os terrenos para saber onde se podia atacar ou onde nos podíamos defender. Neste conflito utilizei a espingarda “mouser” e a metralhadora G3.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Sim, faleceu um colega!

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

Através das acções psico-sociais.

Concordava com este conflito? Justifique.

Não, mas tinha que estar lá, era obrigado a isso. Fui para lá contrariado!

9Outros registos que considere relevantes:

O atraso em que as pessoas viviam. O mais importante era o empenho com que os naturais defendiam a terra deles!


Domingos Ferreira Lopes

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - António Feliciano Mota

Nome: António Feliciano Machado Mota (avô da aluna Francisca Mota, 7ºA).

Localidade: Lousada Data de Nascimento: 7 de Abril de 1940

Local onde esteve na guerra: Índia de 196o até 1961

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

Foi estar cinco meses preso, fui prisioneiro na Índia, a dormir no chão e a passar fome.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Conduzíamos o jeep dos géneros. Passávamos o dia a vigiar o campo inimigo. Enquanto estava preso passávamos o dia a abrir valas e a carregar vagões de sacos de açúcar e de arroz para a estação dos caminhos-de-ferro.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Conheci! Faleceram dois colegas meus perto de mim.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

Os militares falavam pouco com eles (os autóctones) pois não percebíamos a sua linguagem.

Concordava com este conflito? Justifique.

Não, porque acho que aqueles territórios lhes pertenciam, pois eles tinham a mesma raça, cor, língua e religião, ou seja, aquilo nunca poderia ser nosso!

Outros registos que considere relevantes:

Ao fim de quatro meses os indianos cercaram-nos por terra, mar e ar. Fizeram de nós prisioneiros e só nos libertaram ao fim de cinco meses.


António Feliciano Machado Mota

25 de Abril...34 anos depois.



O 25 de Abril de 1974 continua a dividir a sociedade portuguesa, sobretudo nos estratos mais velhos da população que viveram os acontecimentos, nas facções extremas do espectro político e nas pessoas politicamente mais empenhadas. A análise que se segue refere-se apenas às divisões entre estes estratos sociais.

Existem actualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril.

Quase todos reconhecem, de uma forma ou de outra, que o 25 de Abril representou um grande salto no desenvolvimento politico-social do país. Mas as pessoas mais à esquerda do espectro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas das conquistas da revolução se foram perdendo.

As pessoas mais à direita lamentam a forma como a descolonização foi feita e as nacionalizações feitas no periodo imediato ao 25 de Abril de 74 que condicioram sobremaneira o crescimento de uma economia já então fraca.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Biografia de SALGUEIRO MAIA


Salgueiro Maia, como se tornou conhecido, foi um dos distintos capitães do Exército Português que liderou as forças revolucionárias durante a Revolução dos Cravos. Filho de Francisco da Luz Maia, ferroviário, e de Francisca Silvéria Salgueiro, frequentou a escola primária em São Torcato, Coruche, mudando-se mais tarde para Tomar, vindo a concluír o ensino secundário no Liceu Nacional de Leiria. Licenciou-se em Ciências Sociais e Políticas e em Ciências Etnológicas e Antropológicas.

Em Outubro de 1964, ingressa na Academia Militar, em Lisboa e, dois anos depois, apresenta-se na Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, para frequentar o tirocínio. Em 1968 é integrado na 9ª Companhia de Comandos, e parte para o Norte de Moçambique, em plena Guerra Colonial, cuja participação lhe valeu a promoção a Capitão, já em 1970. A Julho do ano seguinte, embarca para a Guiné, só regressando a Portugal em 1973, onde seria colocado na EPC.

Por esta altura iniciam-se as reuniões clandestinas do Movimento das Forças Armadas e, Salgueiro Maia, como Delegado de Cavalaria, integra a Comissão Coordenadora do Movimento. Depois do 16 de Março de 1974 e do «Levantamento das Caldas», foi Salgueiro Maia, a 25 de Abril desse ano, quem comandou a coluna de carros de combate que, vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço forçando, já no final da tarde, a rendição de Marcello Caetano, no Quartel do Carmo, que entregou a pasta do governo a António de Spínola. Salgueiro Maia escoltou Marcello Caetano ao avião que o transportaria para o exílio no Brasil.

A 25 de Novembro de 1975 sai da EPC, comandando um grupo de carros às ordens do Presidente da República. Será transferido para os Açores, só voltando a Santarém em 1979, onde ficou a comandar o Presídio Militar de Santa Margarida. Em 1984 regressa à EPC.

Em 1983 recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1992, a título póstumo, o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada e em 2007 a Medalha de Ouro de Santarém.

Em 1989 foi-lhe diagnosticada uma doença cancerosa que, apesar das intervenções cirúrgicas no ano seguinte e em 1991, o vitimaria a 4 de Abril de 1992.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

http://rohist.blogspot.com/


Este é o endereço de outro blog relacionado com a Revolução de Abril.
Visite!

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Manuel Barbosa Pinto

Nome: Manuel Barbosa Pinto (tio do aluno Jorge Teixeira, 10º I).

Localidade: Lousada Data de Nascimento: 19 de Setembro de 1948

Local onde esteve na guerra.

Moçambique, de 20 de Maio de 1970 até 5 de Agosto de 1972.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

Marcou tudo! Contudo o que mais me marcou foi o dia em que fui ferido em combate. Tenho muitas recordações tristes que não quero recordar, razão pela qual não quero falar aos outros dessas recordações que gostaria muito de conseguir esquecer.

Como era passado o dia-a-dia?

Passava-o angustiado!

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Infelizmente conheci muitos casos de feridos e também de mortos.

Concordava com este conflito?

Ninguém estava de acordo com a guerra, principalmente os soldados porque eram obrigados a defender uma causa que lhe era imposta pelo regime político.


Manuel Barbosa Pinto

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Francisco da Rocha

1. Nome: Francisco da Rocha (avô da aluna Vera Bessa, 10ºJ).

Localidade: Lousada Data de Nascimento: 07 de Abril de 1942

Local onde esteve na guerra: Angola de 1964 até 1966.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?
O que mais me marcou foi o clima de guerra e medo em que se vivia. Aqueles 26 meses foram, sem dúvida, os mais longos e dolorosos da minha vida. As saudades constituíam um dos meus maiores inimigos. A partida foi um momento de grande dor para mim, familiares e amigos. As memórias mais recorrentes foram sempre as mortes de alguns colegas e o momento em que fui ferido (alvejado no braço) pelo inimigo.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?
Quando estava de serviço no mato tinha de prestar muita atenção a tudo o que me rodeava, pois a qualquer momento surgia o inimigo. Quando estava no Quartel aproveitava para descontrair (jogar às cartas com os colegas e a escrever para casa).
O material bélico era: arma individual J3, metralhadora pesada Broni e lança granadas. Em termos de transporte: o JMC, Unimags e jipes do exército.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?
Sim. Faleceu um Capitão, um Furriel e um 1º Cabo no dia dois de Junho de 1965. Lembro-me como se fosse hoje…mesmo à minha frente…tragicamente atingidos por uma arma de fogo do inimigo!

Como se processava o relacionamento com os autóctones?
Em geral relacionava-me bem com os autóctones. Era essencialmente no Norte de África que os revolucionários mais se faziam sentir. Estes estavam contra Salazar e só queriam vingança sobre este e sobre o nosso país.


Concordava com este conflito? Justifique.
Embora tivesse participado neste conflito obrigatoriamente, concordava com a existência deste, pois para além de os angolanos terem morto muitos portugueses, este conflito desencadeou-se porque Angola nos queria tirar o que era nosso, pretendiam deixar de estar sob o domínio português, deixar de estar sob o domínio salazarista.


Francisco da Rocha

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - António Nunes Carvalho

Nome: António Nunes Carvalho (aluna Jéssica Barbosa, 7º A).

Localidade: Fundões-Ordem - Lousada Data de Nascimento: 19 de Março de 1939

Local onde esteve na guerra: Angola de 1961 até 1963.

Como foi para si a guerra? O que mais o marcou como agente dessa guerra?
Para mim a guerra foi difícil, custou muito deixar os pais e os irmãos. O que mais me marcou foi ver o cemitério em Nambuangongo cheio de tropas e ver chegarem mortos da guerra.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?
Em Luanda era comer e passear e passear pela cidade e de vez em quando ir até ao mato desimpedir alguma estrada que estivesse impedida, isto é, com alguma árvore atravessada. No mato, onde trabalhava, passava muita fome e sede. Em Cabinda construímos uns barracões para a manutenção militar. Em Nambuangongo construímos uma pista para os aviões e uma ponte. De Luanda para Cabinda e vice-versa. Os transportes utilizados eram camiões e jipes. Estava sempre com o coração “a bater” com receio que viesse alguma bala que me matasse.

Foi obrigado a ir para a guerra?
Sim! Fui obrigado a ir para a guerra porque andava na tropa. Por outro lado, os angolanos revoltaram-se contra os portugueses e queriam ser independentes.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?
Conheci um sargento da minha Companhia, um soldado assim como também um vizinho meu de Covas, mas este não era da minha Companhia. E ajudei um colega que tinha falta de dinheiro para viver.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?
Eu apenas fui incomodado, uma vez, em Cabinda porque fomos à lenha para fazer de comer, eu quase sempre era o chefe da viatura, e nesse dia, um preto tirou o número à viatura e foi entregá-lo ao Governador. De seguida, este chamou-nos ao seu posto mas ficou tudo bem.

Concordava com este conflito? Justifique.
Por aquilo que pude observar eles tinham razão, porque os nossos antepassados que foram para lá começaram a meter-se com as mulheres dos fazendeiros e por fim matava-os e assim juntaram fortunas e o governo português nada fazia. As estradas eram uma miséria, apesar de ser um país rico devido aos diamantes e ao petróleo, o governo não fez nada.

Quantos anos esteve na guerra? Possui registos fotográficos sobre essa época?
Andei na guerra colonial dói anos e três meses. Regressei a casa no ano de 1963. Sim até tenho bastantes fotografias que representam momentos aí vividos.

António Nunes Carvalho

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - António José Dias

Nome: António José Dias (avô do aluno Luís Dias, 7ºD).

Localidade: Macedo de Cavaleiros Data de Nascimento: 16 de Junho de 1944

Local onde esteve na guerra: Moçambique de 1966 até 1968.

O que mais o marcou como agente dessa guerra?

O que mais me marcou foi o companheirismo com os meus camaradas. Fazíamos várias brincadeiras com os nossos colegas nas horas livres.

Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

As minhas recordações são de cairmos em armadilhas e em emboscadas.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Passávamos os nossos dias no quartel de reforços e de vigilantes.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Cheguei a cair numa emboscada e feri-me no joelho. Muitos camaradas ficaram lá retidos e mortos!

Como se processava o relacionamento com os autóctones? Concordava com este conflito? Justifique.

O relacionamento era bom apesar de não concordar com a guerra porque não havia necessidade de existir.

Qual era a sua função?

Condutor explorador/observador e 1º Cabo.

Conviveu com o General Ramalho Eanes?
Sim, tenho grandes memórias desse meu General.

António José Dias

Teatro - 25 de Abril, 34 anos depois.

No dia 23 de Abril, irá realizar-se uma Peça de Teatro, com o nome de "25 de Abril, 34 anos depois", pela Nova Oficina de Teatro e Coral de Lousada.
Encenação: Capitolina Oliveira

Às 21h30, no Auditório Municial de Lousada


Contamos com a sua presença.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vampiros



No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem Amtudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada

Eles comem tudo
E não deixam nada

Zeca Afonso

A Esperança


Foram dias,
foram anos
a esperar por um só dia.
Alegrias.
Desenganos.
Foi o tempo que doía
com seus riscos e seus danos.
Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia.

Manuel Alegre com adpt. de CravosRevolucionarios

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - José Fernando Ribeiro da Mota

Nome: José Fernando Ribeiro da Mota (tio da aluna Carla Nunes da Mota, do 7º A).

Localidade: Novelas - Penafiel Data de Nascimento: 29 de Março de 1952

Local onde esteve na guerra: Moçambique desde 24 de Agosto de 1973 até 29 de Novembro de 1975.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

Tenho muitas recordações dessa época, ou seja, como em tudo há boas recordações: a convivência, conhecer novas culturas totalmente diferentes da nossa, encontrar e depois conhecer novos povos, ter novos contactos. Contudo também há as más, as más recordações como as situações de guerra. Sofri um ataque a 28 de Fevereiro de 1974 pela manhã, ainda cedo. A alimentação era muito fraca e pouco variada (era sempre arroz e salsichas). As saídas para o mato, às quais chamávamos “operações”. Confesso que o meu pior dia foi quando fui mobilizado para o ultramar (chamado para a guerra, enquanto que o melhor dia foi o do embarque (regresso) à metrópole.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Logo pela manhã, depois de acordar, tratávamos da nossa higiene, íamos tomar banho ao rio Rovuma (entre Moçambique e Tanzânia), jogávamos cartas, escrevíamos aerogramas para comunicar com a família e os amigos, apanhávamos lenha para podermos cozinhar, íamos à caça, o pior era quando íamos almoçar, arroz e salsichas!

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Na minha Companhia (conjunto de soldados) não ocorreram mortes nem feridos, contudo seis homens apanharam um trauma a 100%. Mas no meu Batalhão (conjunto de quatro Companhias) registaram-se mortes e pessoas que ficaram feridas, algumas gravemente.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

Dávamo-nos bastante mal e atacávamo-nos frequentemente. Confesso, sinceramente, que os indígenas eram da “pior raça” existente.

Concordava com este conflito? Justifique.

Quanto ao conflito não concordava porque Moçambique não era português, eram terras totalmente diferentes. Eles estavam a ser justos e nós injustos. Era uma terra que não nos pertencia.

Como eram as habitações?

Nós morávamos em barracas cobertas com chapas enquanto que os inimigos habitavam em barracas cobertas de capim (colmo).

Como era a caça?

A caça era rica em espécies e a carne era de boa qualidade.

Descreve-nos um combate?

No dia 22 de Fevereiro de 1974, às 4:55 da manhã até às 8:00 horas houve um bombardeamento da parte dos “turras” (índígenas). No ataque, ou seja, à frente estavam dezenas de negros, já drogados com “saruma”, contra os portugueses, a criar confusão e a intimidar, ou seja, para dar possibilidade dos “turras” se aproximarem de nós. Quando vimos os pretos já mortos, ficamos contentes pois aquilo dava-nos um certo gozo e depois fomos enterrá-los. Nesse dia, pelo bom desempenho, comemos pela primeira vez batatas. Houve a visita do general, pelo qual, alguns homens foram condecorados pelo seu bom desempenho. Além disso houve um movimento feminino que nos distribuíram gillettes e outros bens essenciais.

Teve conhecimento ou viu algo chocante?

Não, por acaso não. Contudo sabia que para Norte estavam alguns portugueses que cortavam a cabeça a pretos e espetavam-nas em estacas, pois os “turras” faziam o mesmo aos portugueses.

Outros registos que considere relevantes:

Ora bem, um que considero relevante era o facto de como convenciam e davam força para combater, dizendo ou “enchendo-hes a cabeça” com ideias tais como: «se morressem voltavam a nascer… ou se combatessem muito ganhavam prestígio».

José Fernando Ribeiro da Mota

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - Alberto Machado

Nome: Alberto Machado (avô do aluno José Machado, 7º A).

Localidade: Sobroza Data de Nascimento: 5 de Abril de 1938

Local onde esteve na guerra: Angola desde 13 de Junho de 1961 até 5 de Setembro de 1963.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

A união, a amizade e lealdade entre o plotão. O medo permanente das emboscadas, das armas e sobretudo das minas anti-carro e anti-pessoal (em zonas de guerra).
Marcou-me também o trabalho social e educativo que realizamos no programa psico-social no Kaiongo, concelho de Cangola.

Como era pasado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Faziamos patrulhas, reconhecimento e batidas, isto na zona de guerra.
Na zona psico-social fazíamos alfabetização e educação das populações, apoio na higiene, saúde e segurança.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Sim. Dois mortos e um ferido, da minha Companhia.

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

Na zona de guerra protegíamos as povoações, pois os restantes eram todos terroristas.
Na zona psico-social tínhamos um trabalho onde todos nos dávamos bem e onde procurávamos fazer permuta de experiências a nível cultural e sociológico. Construímos também uma escola.

Outros registos que considere relevantes:

Mesmo durante os confrontos nunca perdemos o sentido de ajuda às populações, tanto a nível humanitário, como de ajuda, a feridos, mulheres e crianças.
Alberto Machado

Testemunhos da terra: ex-combatente da guerra colonial - António dos Santos

Nome: António dos Santos (avô da aluna Laura Beatriz, 7º D)

Localidade: Lousada Data de Nascimento: 19 de Outubro de 1948

Local onde esteve na guerra: Guiné-Bissau, de 1970 até 1972.

O que mais o marcou como agente dessa guerra? Quais as principais recordações/memórias desse período nessa região?

Para mim o que mais me marcou foi a ausência, o afastamento, durante dois anos, das pessoas da família e dos amigos. Depois viver esse tempo num cenário de guerra com tiroteios durante a noite, sempre aflito, com medo de não voltar à minha terra. Além disso, o que me marcou bastante foi o assistir ao sofrimento das populações.

Como era passado o dia-a-dia? Que tipo de material bélico/transportes utilizavam?

Durante um ano e três meses, três vezes por semana, prestávamos assistência aos nativos, mulheres/crianças/velhinhos. Eu era condutor por isso levava os colegas e o armamento, ou seja, metralhadoras, granadas, basucas, espingardas, pistolas, etc.

Conhece alguém que tenha ficado ferido ou tenha falecido nessa guerra/conflito?

Sim. Conheci alguns amigos que faleceram ao serviço da pátria!

Como se processava o relacionamento com os autóctones?

No meu pelotão tinha um bom relacionamento. Praticávamos algumas actividades desportivas o que ajudava a passar o tempo e a apagar as recordações.

Concordava com este conflito? Justifique.

Não. Não concordava porque fomos obrigados a ir para uma guerra que não era nossa, pois para mim aquela terra é dos guineenses!

Outros registos que considere relevantes:

Relevante foi a grande amizade, que ainda hoje existe, entre todos os camaradas do pelotão que durante esses anos nos aproximou como uma grande família.

António dos Santos

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Assinalar a Revolução de Abril na nossa Escola


No âmbito da disciplina de História iremos assinalar a Revolução do 25 de Abril na nossa Escola - Escola Secundária de Lousada - (no decorrer da semana de 21 a 25 de Abril) não só através dos alunos, mas também, da comunidade escolar. Onde virão, nessa semana, ex-combatentes da guerra Colonial, dar o seu testemunho.
Um dos projectos visa estabelecer diferenças fundamentais entre a época vivida antes e após a Revolução.
Os alunos através da família, rede de amigos e entidades locais poderão enriquecer o conhecimento da História Local, conhecer melhor a própria família e descobrir nesta gentes/protagonistas de um período que marcou definitivamente a identidade nacional. Participar, como agentes que somos da nossa História Contemporânea, ajudando as gerações mais novas a compreender essa realidade através de testemunhos vivos.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Movimento das Forças Armadas



A contestação dos capitães levou à criação do MFA (Movimento das Forças Armadas), que percebeu que só acabaria com a guerra colonial se derrubasse o regime que a sustentava.
A operação que acabaria na Revolução dos Cravos passou por momentos de grande tensão desde a primeira reunião em Bissau, a 21 de Agosto de 1973, até ao derradeiro encontro dos operacionais no Posto de Comando no dia 24 de Abril de 1974.
Assim se começou a preparar a queda da Ditadura instaurada em 1926.



21 de Janeiro de 1973
Manifestações anticoloniais em Lisboa.


Maio de 1973
Protesto dos militares à tentativa de apoio das Forças Armadas ao Governo por parte do Congresso dos Combatentes a realizar de 1 a 3 de Junho.


1 de Junho de 1973
Início do I Congresso dos Combatentes do Ultramar, no Porto, que mereceu a oposição do "Movimento dos Capitães". Ao mesmo tempo, circula um manifesto de Oficiais do Exército contra o Congresso e a legislação que pretende apoiar.


13 de Julho de 1973
Publicação do Decreto-Lei n.º 353/73, que possibilitava aos milicianos do Quadro Especial de Oficiais ultrapassarem os capitães do quadro permanente nas suas promoções, mediante a frequência de um curso intensivo na Academia Militar, equiparado aos cursos normais, o que originou viva contestação dos capitães do quadro permanente.


20 de Agosto de 1973
Publicação do Decreto-Lei n.º 409/73, que dá nova redacção ao 353/73 mas mantém a situação dos capitães do quadro permanente.


21 de Agosto de 1973
Primeira reunião clandestina de capitães em Bissau.


28 de Agosto de 1973
Eleição da primeira comissão do "Movimento dos Capitães", constituída pelos Capitães Almeida Coimbra, Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano.


9 de Setembro de 1973
Nasce o MFA na primeira reunião plenária (clandestina) dos capitães, no Monte Sobral em Alcáçovas, com a presença de 95 Capitães, 39 Tenentes e 2 Alferes.


24 de Setembro de 1973
A Guiné-Bissau proclama unilateralmente a independência.


6 de Outubro de 1973
Reunião quadripartida do MFA (por razões de segurança), sendo um dos locais a casa do Capitão Antero Ribeiro da Silva, no n.º 24, 2º Dto da rua Prof. Dr. Augusto Abreu Lopes, em Odivelas.


12 de Outubro de 1973
O Ministro do Exército e da Defesa Nacional, Sá Viana Rebelo, suspende os Decretos-Lei n.º 353/73 e 409/73, o que não evita a crescente contestação dos capitães.


23 de Outubro de 1973
Circular clandestina onde se faz o ponto da situação.


26 de Outubro de 1973
Reconhecimento da Guiné Bissau como estado soberano pela ONU.


28 de Outubro de 1973
Eleição de deputados à Assembleia Nacional. A oposição desiste antes do acto eleitoral, devido à inexistência de garantias mínimas de seriedade.


7 de Novembro de 1973
Demissão do Ministro Sá Viana Rebelo, na sequência da contestação do "Movimento dos Capitães" aos referidos decretos.


24 de Novembro de 1973
Reunião plenária, na Parede, onde o Tenente-Coronel Banazol defende, pela primeira vez, a tese de golpe militar, que transita para discussão em próxima reunião.


Dezembro de 1973
Denúncia pelo Major Carlos Fabião, numa aula de Instituto de Altos Estudos Militares, de um golpe de estado de direita em preparação, que seria conduzido por Kaúlza de Arriaga.


1 de Dezembro de 1973
Reunião plenária em Óbidos, onde se votam três teses alternativas:
golpe militar;
continuação da luta contra os Decretos 353/73 e 409/73 com perspectivas de passar a golpe militar;
continuação da luta legalista contra os Decretos.
É aprovada a última tese, mas a primeira que fala de um golpe militar ganha apoios, perspectivando-se o carácter revolucionário do "Movimento" e elege-se a primeira Comissão Coordenadora do "Movimento dos Capitães" constituída por 19 oficiais e escolhidos os Generais Costa Gomes e António de Spínola para servirem de ligação.


5 de Dezembro de 1973
Reunião da Comissão Coordenadora na Costa da Caparica, onde se rejeita a tese do Tenente-Coronel Banazol e onde se elege um executivo do "Movimento", constituído pelos Majores Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves e o Capitão Vasco Lourenço. É criado um grupo de trabalho para elaborar o Programa do MFA, coordenado pelo Major Melo Antunes e constituído pelos:
Tenentes-Coronéis Lopes Pires, Franco Charais e Costa Brás,
Major Hugo dos Santos e Coronel Vasco Gonçalves (do Exército),
Capitão-Tenente Victor Crespo,
1º Tenente Almada Contreiras (da Marinha),
Majores Morais e Silva e Seabra e o Capitão Pereira Pinto (da Força Aérea).



22 de Fevereiro de 1974
Publicação do livro "Portugal e o Futuro", do General António de Spínola, que abalou o regime e, em particular, Marcelo Caetano.


5 de Março de 1974
Reunião de cerca de 200 oficiais dos três ramos das Forças Armadas, em Cascais, no atelier do arq. Braula Reis. Pela primeira vez se fala na possibilidade do fim da guerra colonial e no derrube a ditadura para o estabelecimento de um regime democrático. É aprovado o documento «O "Movimento" as Forças Armadas e a Nação», apresentado pelo Major Melo Antunes.


8 de Março de 1974
O Governo transfere os Capitães Vasco Lourenço e Carlos Clemente para os Açores, Antero Ribeiro da Silva para a Madeira e David Martelo para Bragança, com o objectivo de enfraquecer o "Movimento dos Capitães". O Capitão Clemente é levado à força para o Aeroporto, mas o "Movimento" rapta os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva e esconde-os.


9 de Março de 1974
Os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva apresentam-se voluntariamente no Quartel General da Região Militar de Lisboa, na companhia do Capitão Pinto Soares, sendo os três detidos e enviados para a Casa Reclusão da Trafaria.


11 de Março de 1974
Marcelo Caetano, em carta a Américo Tomás, pede a demissão, por se sentir responsável pela publicação do livro de Spínola, mas não é aceite.


14 de Março de 1974
Marcelo Caetano recebe Oficiais-Generais dos três ramos das Forças Armadas, numa reunião que ficou conhecida como a "Brigada do Reumático", no intuito de tentar provar que o regime tinha tudo sob controlo.
Discurso de Marcelo Caetano a 14 de Março de 1974 aos oficiais leais ao governo.



15 de Março de 1974
Demissão dos Generais Costa Gomes e António de Spínola por se terem recusado a participar na "Brigada do Reumático".


16 de Março de 1974
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares, alguns deles decisivamente envolvidos na preparação da "Revolução dos Cravos".
A saída em falso do Reg. das Caldas da Rainha a 16 de Março de 1974, como reacção à demissão de Costa Gomes e de Spínola, constituiu o ensaio militar do dia 25 de Abril.


24 de Março de 1974
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, em casa do Capitão Candeias Valente, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar entre 22 e 29 de Abril. O Major Otelo Saraiva de Carvalho fica responsável pelo "Plano Geral das Operações".



28 de Março de 1974
Última "Conversa em Família" de Marcelo Caetano na RTP.



21 de Abril de 1974
Aprovação da versão definitiva do Programa do MFA.


22 de Abril de 1974
Está pronto o "Plano Geral das Operações: Viragem Histórica" e as Unidades Militares afectas ao MFA ficam à espera do início do golpe militar. Por decisão de Otelo é escolhido o Regimento de Engenharia N.º 1 na Pontinha, para instalar o Posto de Comando das operações.



23 de Abril de 1974
Otelo Saraiva de Carvalho comunica que as operações militares se iniciariam às 03.00h do dia 25 de Abril e entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25, com a senha "Coragem" e contra-senha "Pela Vitória" e um exemplar do jornal Época, como identificação, para as Unidades participantes.



24 de Abril de 1974
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa "Limite" dessa noite, na Rádio Renascença.


24 de Abril de 1974 às 21:00
Otelo Saraiva de Carvalho faz chegar ao General Spínola a "Proclamação ao País do Movimento das Forças Armadas Portuguesas".



24 de Abril de 1974 às 22:00
Começam a reunir-se os elementos do MFA no Posto de Comando, instalado no Regimento de Engenharia N.º 1, na Pontinha: os Tenentes-Coronéis Lopes Pires e Garcia dos Santos, os Majores Otelo Saraiva de Carvalho, Sanches Osório e Hugo dos Santos, o Capitão-Tenente Victor Crespo e o Capitão Luís Macedo.


24 de Abril de 1974 às 22:55
Os Emissores Associados de Lisboa transmitem a canção "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, primeiro sinal do MFA, confirmando que tudo corria bem.

E depois do Adeus


E depois do Adeus foi a canção que serviu de senha de início da revolução de 25 de Abril de 1974. Com letra de José Niza e música de José Calvário a canção foi escrita para ser interpretada por Paulo de Carvalho na 12ª edição do Festival RTP da Canção, do qual tinha saido vencedora pouco tempo antes.

Com a transmissão de E depois do adeus, pelo Emissores Associados de Lisboa às 22h55m do dia 24 de Abril de 1974, era dada a ordem de partida para a saída dos quartéis.


Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

Grândola, Vila Morena


Grândola, vila morena foi composta como homenagem à "Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense", onde no dia 17 de Maio de 1964, José Afonso fez uma actuação. É nessa actuação que o cantor conhece o guitarrista Carlos Paredes, ficando impressionado com "o que esse bicho faz da guitarra!" (expressão do próprio José Afonso numa carta aos pais).

José Afonso fica também impressionado com a colectividade: um "local obscuro, quase sem estruturas nenhumas, com uma biblioteca com claros objectivos revolucionários, uma disciplina generalizada e aceite entre todos os membros, o que revelava já uma grande consciência e maturidade políticas".

Esta canção tornar-se-á famosa ao ser escolhida como senha para a revolução do 25 de Abril. Houve duas senhas. A primeira, às 23h, foi a música "E depois do adeus", de Paulo de Carvalho. Grândola, que foi a segunda, passou no programa "Limite" da Rádio Renascença às 0.20h do dia 25. Foi o sinal para o arranque das tropas mais afastadas de Lisboa e a confirmação de que a revolução ganhava terreno.





Grândola vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti ó cidade

(...)

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola vila morena

Terra da fraternidade

(...)

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola a tua vontade

Monumento aos ex-combatentes inaugurado no dia da liberdade



Um grupo de ex-combatentes lousadenses que estiveram no Ultramar vai inaugurar, no dia 25 de Abril, um monumento em homenagem aos soldados do concelho que estiveram envolvidos nesta guerra e na defesa das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, entre 1961 e 1974.

O monumento, na Rua Santo André, em frente ao Bairro Dr. Abílio Moreira e perto da rotunda do Hipermercado Feira Nova, em forma de uma pirâmide, tem na lápide desenhado o mapa de Portugal e das ex-colónias e na sua base o nome dos 32 ex-combatentes que lutaram e morreram nas ex-colónias, com a seguinte inscrição: "Homenagem aos militares falecidos no ultramar do concelho de Lousada". O projecto conta com o apoio da Câmara Municipal de Lousada e é da co-autoria do arquitecto Neto e o Eng.º Nogueira.

Luís Pinto Dâmaso, o "Magalhães", o "Esteves" e o "Alberto", são alguns dos ex-combatentes e colegas de luta que integram a lista de signatários designada de delegados dos Veteranos de Guerra que tem como objectivo dignificar a memória dos ex-combatentes de Lousada que como eles lutaram pela preservação das ex-províncias e recordar a opção histórica realizada então e que levou a que muitos jovens tivessem que rumar para o ultramar, na flor da juventude.

"A opção colonial marcou o destino da nação. O país entrou numa guerra que constituiu, porventura, um dos acontecimentos mais marcantes da sua história ao longo do século XX. As soluções foram adiadas e o conflito condicionou a vida nos anos seguintes. Deste modo a pátria exigiu que a sua juventude entre 1954 e 1975 compartilhasse a luta no terreno, ao lado desses irmãos distantes", refere a proposta para a edificação do monumento em memória dos soldados mortos em combate.

Com esta homenagem pretende-se, ainda, reavivar a memória dos soldados que lutaram por um ideal, mas que a história parece querer esquecer. "Finda a guerra, fez-se crer que Portugal queria esquecer os seus heróis. Essa injustiça deve ser reparada e, para tal, há que acordar os mais velhos e inculcar nos mais novos o sentimento de consciência nacional e o respeito pelos seus heróis e pela sua história. Os combatentes vivos ou mortos souberam servir a pátria com dignidade, coragem, lealdade, sacrifício e orgulho nacional. O sangue derramado e o sacrifício de sucessivas gerações têm que ser, para sempre, lembrados e enaltecidos em ambiente de paz, de orgulho, de sentimento de justiça e de crença nas qualidades do povo português", lê-se na mesma proposta a que o TVS teve acesso.

Segundo Luís Dâmaso, a organização da lista implicou a realização de um trabalho profundo de pesquisa e contactos com os familiares dos soldados que demorou largos meses. A cerimónia de inauguração terá a presença da Fanfarra de Boim e irá começar com o içar da bandeira seguido da colocação de uma coroa de flores.

Os signatários da proposta solicitam a comparência dos ex-combatentes e seus familiares com o objectivo de engrandecer e eternizar a memória dos seus soldados.


LOUSADENSES MORTOS NO ULTRAMAR (1961 - 1975)

Soldado - Adão Luís Nunes Ferreira - Exército - Moçambique - Sousela

Soldado - Agostinho Rocha Faria - Exército - Moçambique - Ordem

1.º Cabo - Agostinho Sousa e Silva - Exército - Moçambique - Meinedo

Soldado - Alberto Ribeiro Macedo - Exército - Angola - Caíde de Rei

Soldado - António Augusto Ribeiro - Exército - Moçambique - Nogueira

Soldado - António Rodrigues Cunha - Exército - Angola - Caíde de Rei

1.º Cabo - António Soares Faria - Marinha - Moçambique - Torno

Furriel - Armindo Velozo - Exército - Guiné - Lousada Santa Margarida

Soldado - Carlos Gaspar Guimarães Vieira Osório - Exército - Angola - Torno

Soldado - David Pacheco de Sousa - Exército - Guiné - Lustosa

Soldado - Fernando Pinto Castro - Exército - Moçambique - Torno

Soldado - Filomeno da Costa - Exército - Guiné - Lousada S. Miguel

Soldado - Fortunato da Silva Gonçalves - Exército - Guiné - Barrosas (S.Eulália)

1.º Sargento - Francisco Ferreira Barbosa - Exército - Guiné - Silvares

Soldado - Francisco Machado Ferreira - Exército - Angola - Lustosa

1.º Cabo - Francisco Nunes Ribeiro - Exército - Angola - Silvares

Soldado - João Januário Freire dos Santos - Exército - Guiné - Cristelos

Soldado - Joaquim Augusto Borges Machado - Exército - Guiné - Nogueira

Soldado - Joaquim Barbosa de Sousa - Exército - Moçambique - Covas

Soldado - Joaquim Francisco Gomes Neves - Exército - Angola - Lustosa

Soldado - Joaquim Mendonça Martins - Exército - Angola - Barrosas (S.Eulália)

Soldado - Joaquim Pinto Ribeiro - Exército - Angola - Barrosas (Santa Eulália)

Furriel - José António da Costa Teixeira - Exército - Guiné - Silvares

Furriel - José de Sousa Rola Teixeira - FAP - Guiné - Lousada

Soldado - José Ferreira de Bessa - Exército - Guiné - Ordem

1.º Cabo - José Gomes da Cunha Guimarães - Exército - Moçambique - Torno

1.º Cabo - José Manuel Ribeiro - Exército - Guiné - Vilar do Torno e Alentém

Furriel - Júlio Agostinho de Sousa Magalhães - FAP - Angola - Cristelos

1.º Cabo - Luís Ribeiro Pereira - Exército - Moçambique - Sousela

1.º Cabo - Manuel Freire da Fonseca - Exército - Angola - Boim

1.º Cabo - Miguel Teixeira Fernandes - Exército - Moçambique - Torno

Furriel - Tomás Brás - FAP - Angola - Nevogilde


Os delegados organizadores do memorial dos combatentes foram agora confrontados com a existência de mais um soldado morto em combate (na Guiné em 09/03/1972), o 1º Cabo, Enfermeiro Páraquedista, José Moreira de Sousa, natural da Aveleda. Na impossibilidade do nome figurar na lápide já colocada no local, os organizadores prestam neste jornal a homenagem ao soldado e sua família.

Jornal TVS de 10 de Abril de 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Trova do vento que passa





Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.


Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre